quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Barquinho

O barquinho navegava calmo
Balançava com gentileza
Levado pela correnteza
Do vento fora alvo




quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Relógio

"(...) É Hora de Embriagar-se!Para não serem os  escravos martirizados do Tempo(...)"



O relógio.
Incrustado em nosso peito.
Seu "tic-tac",sua presença, aperta o crânio dos mortais e pressiona o cérebro em sua caixinha.



Metal e Carne.
Juntos,mesclam-se ao sangue, aos ossos,a carne,mas não a alma.


Conseguimos ouvir as engrenagens sincronizadas,ouvir o metal se enferrujando e ficando mais lento aos poucos.

Seu ponteiro gira como um louco,seu motor parece explodir.
A primeira respiração.O momento glorioso onde seus pulmões se expandem e ganham espaço como um pássaro abrindo as asas para o voo.


Suas mãozinhas se abrem e se contorcem.
Suas narinas capturam cheiros e sensações nunca vistas.
O leite materno desliza sobre seu interior.
(...)
O relógio continua agitado.
Não se percebe a sua presença por ora,não importa o quanto grite.


O mundo nesse ponto, já é um amigo conhecido.
Agarra-se a árvores,árvores que nem mesmo os relógios funcionam mais.
Abre-se o relógio, com um graveto seco.
Suas engrenagens estão podres,cinzas,inertes e mortas.


Nesse instante,nesse crucial instante,consegue-se ouvir um leve som,o relógio sussurou,levemente.
Foi percebido,mas não notado.


Ao continuar a caminhada.
Encontra-se,uma criatura deitada sobre as folhas.
Que bela criatura aquela,suas penas respondem ao sol com tanta fluidez!


Oh,mas tem algo de errado,não tem?
Criaturas como aquela,não adormecem no chão.
Criaturas como aquela, não tem o peito aberto.
Criaturas como aquela não tem larvas e vermes se balançando sobre carne morta.


"Coitado"-A mãe fala,expressão triste tomando seu rosto.

" Por que ele está assim?"

"Ele morreu,meu anjo."

"O que é morrer?"

"É finalizar o caminho da vida,um dia tudo acaba.Um dia irei embora,você também."

Outro instante crucial,outro momento destruidor.

Agora,o relógio, não foi delicado.
Gritou como se trouxesse um filho ao mundo.De certa forma,trouxe: O medo da morte.

(...)
Aonde está,o "tic-tac" do relógio já é um familiar que tem de lidar diariamente,mas no qual,nem dá importância.

Irá viver eternamente,essa alma juvenil.
Essa alma pulsante e certeira.


No entretenimento, vê a morte sempre.
Pessoas indo e chegando.
Mas agora,não se importa.
Se o relógio dá um pio nesses momentos,ele não ouve.


A morte para si,não é nada menos que uma possibilidade distante e impossível.

Temo que,nesse ponto da história, o relógio começou a ser sutilmente notado.
Seu som,consegue ser distinguido nitidamente.
Está ciente que cada tic,que cada tac,é decisivo.
Cada movimento na engrenagem,alfineta levemente a sua alma.
Em certos momentos,o relógio tem sua devido atenção.
Em certos momentos,o relógio pode cantar ferozmente,que cada nota será ouvida.


Na maior parte do tempo,é só um cenário.
Uma ciência assustadora,mas inofensiva.


Certas horas,as realmente boas,o relógio ao menos é notado. Ao menos parece estar lá dentro.A alma imortal aninha e canta melodias.

Em dias ruins,ele permanece empoleirado no ombro,gritando ordens,idéias,medos e em raros momentos,soa atraente.
(...)

Meio caminho andado.
O relógio é um inimigo em comum.
Parece mais ameaçador, as engrenagens estão começando a enferrujar e a ficarem mais lentas.
O metal parece cortar a carne.


Seu crânio sendo pressionado,esmagado e triturado.

"Tenho ainda tanto a viver"-eles dizem,tentam soar confiantes.Tentam ouvir as próprias vozes entre as batidas do relógio.

"Não posso morrer,tento a fazer nesse mundo ainda.Irei deixar pessoas importantes,pessoas que precisam de mim.Deus é bondoso."-O relógio não liga pro divino,muito menos para as pessoas deixadas.O relógio só tem olhos pra você e quanto será notado.

Enquanto tenta pintar seu cabelo branco,enquanto tenta esconder esses sacos de pele pendurados em sua carne como lençóis.
Dois furos no rosto.


"Sou um fantasma agora,veja vovó!Vamos pedir doces!Oh vovó ,vejo que você também veste lençóis,os mais feios que já vi.E esses furos? Esses dois escuros e profundos furos,mais profundos do que a carne deveria permitir.Agora entendo vovó, os dois furos são na alma.Por esses dois furos que sua vida irá vazar e sujar a minha alma imortal.Sou imortal vovó!Viverei para sempre!Nem ao menos ouço o meu relógio ao passo que o seu parece uma orquestra doentia."
(...)
Tantas folhas caíram, tantas árvores e pássaros apodreceram desde sua primeira respiração.

O relógio agora,se tornou um amigo.
Aquele para conversas na madrugada.
Seu tic-tac parece uma música,agora doce, suave e lenta.


Espera ansiosamente por cada nota,por cada melodia.

Não se importa mais,não agora.

O ponteiro gira lentamente,em um gesto belo e até divino.
A última respiração.O momento glorioso onde seus pulmões se esvaziam pela última vez como um pássaro se preparando para dormir.


O relógio para.

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O relógio significa a ideia da morte e o quanto ela persegue o ser humano ao decorrer da vida. A narrativa explora a passagem da vida e as fases conforme a idade e o passar do tempo.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Coração Valente

Oh, meu coração valente
Desprovido do escuro medo
A pureza que nunca mente
Voltará para casa, cedo


Inicialmente, eu escrevi isso como se fosse para uma criança perdida, perdida no caso que é o mundo, assustada com a possibilidade de crescer.
Mas, depois, foi para meu encanto passageiro: o Luke, o meu ex-gatinho.
Por que eu sinceramente gostava do miado fino dele e como era pequeno e desajeitado no cenário confuso que era a minha casa.



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Barco e Mar

(...) no meu belo oceano de desventuras (...) 


O barco navega longe do chão
Nunca será encontrado
Naufrágio no mar da solidão
O destino já fadado


Isto é uma metáfora relacionada á minha mente e o quanto sou desatenta aos acontecimentos da minha vida.
 Eu sou o barco, longe da costa, da realidade. Estou apenas navegando e navegando para longe, tentando encontrar algum destino acolhedor, distante da tempestade.




sábado, 12 de novembro de 2016

Outra coisa

Como não ando inspirada, resolvi novamente postar uma frase de outro pintor que admiro muito:

"O palhaço não sou eu, mas sim esta sociedade monstruosamente cínica e tão ingenuamente inconsciente que joga ao jogo da seriedade para melhor esconder a loucura."
-Salvador Dalí

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

...

As palavras parecem tão distantes.
Como se eu não pudesse agarra-las e coloca-las em uma ordem que faça sentido.
Elas dançam sobre a tela do computador, brincando com a possibilidade de serem compreendidas.
Estão criptografadas pelo meu próprio cérebro, escondidas nas incógnitas de minha mente.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Portas

Às vezes eu penso em todas aquelas portas, que deixaram de ser portas.
E todas aquelas paredes, que já foram portas um dia.
Manchas de tinta sobre os tijolos despedaçados,formam o que um dia foram entradas.
Entradas para mundos além desse, entradas sutis que nos levariam para muito além do que apenas outro cômodo.
Portas sem fechaduras.
Ladrões de sonhos podem entrar facilmente.
O velho muro cru se estendendo no terreno abandonado.
A porta está lá, solitária.
A solitária porta querendo nos mostrar o mundo que há por trás dela.
Somos todos cegos e surdos, privados da maravilha que nela se esconde.